sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Santa Baladeira Amém!


A cena: uma de minissaia, a curvinha do bumbum aparecendo (sim, quem frequenta balada sabe que isso é muito normal – estranho é mulher de calça), trançando as pernas de porre e dançando até o chão. A outra, de saia longa, rodeada de um monte de iguais, rezando – por vezes em silêncio, outras aos tambores) e em uma espécie de transe dançando também.

Normal uma garota usar o seu melhor vestido e perfume, tomar todas e mais algumas na  noite e acordar no outro dia contando de algum vexame que deu. Normal.

Agora, porque é tão bizarro imaginar uma garota, na mesma idade, de saia longa, reunida com os amigos numa igreja ou um terreiro, por exemplo?

Tá aí. Valores que pra mim são impossíveis de entender.

É bonito ser vagabunda e é ridículo ser religiosa. Oi?

Vamos do começo: eu sou dessas que (fora o redondinho aparecendo e o pileque) também dançam até o chão e viram a noite na balada. Normal né?

Aí, a fulana aqui, sem querer, comenta ter passado a madrugada em oração na praia (tava macumbando mesmo) e oh!!! Que menina estranha!

Gente!

Tô falando de mim que sou veinha (longe de ser religiosa, apesar de absurdamente crente) e muito bem encaminhada da vida, hein?! Imagina quando o assunto é sobre adolescentes que optam por uma vida menos “mundana”.

Se eu tivesse dito que peguei três na madrugada e dei vexame por causa da bebida, iriam rir. Mas não, eu tava rezando. E faço isso aos finais de semana. E não bebo, porque vou rezar ... e sou estranha!

O mesmo acontece com as amigas evangélicas que fazem vigílias, frequentam shows de música gospel ou as católicas que peregrinam a Aparecida do Norte. Mulheres estranhas....eu hein?!

Ah é! Tem as loucas também, coitadas! Magina? Deixar de ir à praia para cuidar de pobre? Que absurdo. Não curtem a vida, né?! Essas “minas” tão maluca mesmo.

Tudo bem que tem um monte de mulher doida de verdade: umas que esperam Gzuis pro café da tarde, outras que não fazem nada da vida porque o “santo” delas não quer, outra que acha que pode viver de luz e por aí vai.

Também sei (e tenho certeza) que nem toda baladeira é vagabunda, gente. Eu sei disso – e como disse adoro balada também.

Mas queria entender que mundo é esse em que ficar em casa é absurdo, não pegar ninguém na balada é impensável e não beber é quase um crime. 

Talvez seja por isso que a cada dia mais e mais pessoas se fanatizam em suas crenças, né? Porque pára pra pensar: se é nessa humanidade podre que eu tenho que acreditar, é de reza braba que eu preciso mesmo!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Centauro

Me pede constância e não entendo do que se trata. Eu volto. Sempre volto. Você insiste pra eu voltar e não consigo dizer não.
Teu abraço me isola do mundo e teu beijo é passaporte para uma viagem que adoro. 
Frequência é assunto. Mas passa. Acordo sem saber se sonhei ou foi o efeito da última caipirinha que não bebi e tento de novo, afinal, foi o que pediu, não foi?


Acho que fui eu que entendi errado essa sua cobrança por minha presença, pela frequência e a "saudade" que pronunciou no abraço porque o silêncio apaga tudo o que foi dito.
Dito e soletrado. Mas eu que errei. Entendi errado, não pode.Só pode.




quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Tambores


Dali, não tinha como resistir.
O som dos, a alegria das cores, os movimentos. Toda a atmosfera de festa me envolvia e fui até lá.
Contida, no começo, olhos para o chão. Há muito não passava por isso e tinha medo de não saber mais como agir.
Não precisava. Aos poucos, os movimentos tímidos e os passos controlados foram tomados por sorrisos e saltos. Leveza e alegria como nem lembrava sentir.
E a cada minuto ia sendo tomada pelas sensações e envolvida pelo momento, me entreguei... incômodos e dores apareceram. Mas a magia me pôs em transe e não percebi o quanto me fiz mal.
Eu me machuquei. Sozinha.
A música acabou – sempre acaba. E me sobrou a sensação boa do que vivi acompanhada de pés esfolados, doloridos a ponto de não poder tocarem o chão. A ponto de ter medo de ouvir qualquer outra música e apavorada em pensar nessa entrega doída outra vez.
E sempre dói. As vezes sangra e traumatiza.
Em uma próxima, me talvez eu vá mas com sapatos. Calçada pra me proteger da envolvente ilusão.
Culpa?
Minha. Deveria desconfiar.
Quem sou eu pra me entregar assim?
Logo cicatriza e talvez, antes disso, eu tente dançar com o amor outra vez.




domingo, 2 de dezembro de 2012

Bailarina


Mais uma vez surpreende.
Brilha como nunca.
Hoje como guerreira.
Armada
Mira na platéia...
Ele está lá...
Sente como se todos os refletores estivessem sobre ele
Mas era seu próprio olhar que o destacava.
Concentra-se
E dança.
Com sua alma...
Como uma arma.
As cortinas se abrem novamente.
O avista no grande teatro
E chora...
Ao som dos aplausos que estremecem o cenário
Foi brilhante!
Mas chora...
Por não conseguir ser mais que a bailarina.
Somente mais uma bailarina.
Errara o novamente tiro.


publicado originalmente em: A Radionave

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sobre Recaídas


Sobre recaída:
reconhecer?
recomeçar?
reconciliar?
reconstituir?
ou retroceder?


publicado originalmente em: A Radionave

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Vizinhança


10 minutos.
O trajeto do carro até a porta do prédio é suficiente para todos os tipos se cruzarem na mesma calçada.
As mulheres em saltos e cabelos escovados com bolsas e pastas gigantes carregam seus computadores de mão descem a rua em tropeços alternando entre a calçada cheia de plantinhas e buracos e a rua, transpirando sua a maquiagem rezando a cada passo para que nada de mal aconteça a seus sapatos.
Os dançarinos da companhia com suas roupas folgadas, sandálias ou sapatilhas sobem cantarolando em passos rápidos. Um outro grupo, brinca na praça filmando expressões e sons, fazendo caretas no meio da rua.
 É só prestar atenção para saber para onde se dirigem. O portão de madeira do estúdio de dança de onde se ouvem vozes o dia todo - eles cantam também.
O pai entra no carro com a menina de mochila nas costas mostrando a janelinha do dente de leite enquanto conta seu dia na escolinha.
E quando o carro sai, estaciona a mulher de cabelos curtos que tira o bebê da cadeirinha amarrando-o junto a si em um pano colorido: ela caminha em direção a uma casa onde mães se reúnem para trocar experiências e se exercitar carregando seus bebês bem próximos ao corpo- um clube de Sling.
Nesse vai e vem de gente não há mais espaço para os carros. Cada centímetro é disputado sob os olhos de senhorinhas que tomaram isso como passatempo. Há uma especial: a do muro amarelo.
Ela insiste e persiste em parar toda e qualquer viatura de polícia para reclamar do caos e da necessidade de placas proibitivas. Se bem que o passatempo dela não é de todo ruim. É ele que nos avisa cada vez que um caminhão maluco ameaça destruir qualquer retrovisor. Ah! E ela gosta de conversar também. Dá sempre um jeito de puxar assunto e dizer porque reclama, digo, se preocupa tanto. Vive pedindo um cartão (como se ela já não soubesse o nome e o carro de todos nós).
Há também o vigia. Ainda não entendi muito bem o que ele faz 12 horas dentro da casinha que fica na calçada. Vigia? Não tão óbvio assim. Sei que ele se refere a um dos vizinhos como "meu patrão" - o dono de uma casa escura e bastante movimentada. Sobre as 12 horas de trabalho eu sei porque ele já me contou. É mais um que gosta de assunto na calçada.
O outro vigia, o que fica aqui mais perto, tinha a função de resgatar as nossas tartarugas. Mas isso é outro assunto. Acho que hoje ele fica observando quem chega e quem sai da clínica de psicologia se perguntando intimamente qual a "loucura" de cada um - se ele olhar para o prédio da frente, nem precisa de muita criatividade: estamos em uma agência.
Não o vi por esses dias, mas pelo menos uma vez por semana o cachorro de rodinhas aparece. Sim. Ele tem rodinhas - acho que não dá para chamar de cadeira de rodas umas rodinhas que fazem as vezes de patas traseiras. Meu horário coincide com seu passeio e ele aparece sempre com a língua para fora, guiado pelo rapaz de moletom.
Os meninos de moletom. São vários e cada um deles trás no mínimo, quatro cachorros cada. São os "dog walkers" comuns por aqui.
É comum o susto ouvindo passos rápidos e respirações pesadas a noite enquanto se caminha por aqui. Há os atletas também que, transpirando, sobem e descem a Grajau infinitas vezes.
Buzinas. Acenos e cumprimentos. Enfim, há os conhecidos que transitam pelas mesmas calçadas que esses personagens que, ao que tudo indica, já estavam aqui quando chegamos.
Esses talvez nunca tenham percebido tudo isso. Mas é só olhar por lado e perceber a graça da vizinhança da Grajau.


originalmente publicado em: Literatura Cotidiana

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Partitura Inacabada


É senhor de sua escravidão e se acomoda no incômodo que não é seu.
Seu futuro o hipnotiza e seu passado o abocanha.
E faz sofrer.
E causa dor.
Pois já sentiu
E já cedeu.
Personagem de um roteiro que não escreveu...
Não perde jamais!
E rompe todos os laços.
Não pode criar laços; não deve.
Não faz promessas e tudo promete.
E se protege .
E se esconde.
Pois é necessário
Antes destruir o vulnerável
e desafinar no acorde novo
premeditando a melodia.
Mas não chega nunca ao fim.
Não quer o final.
Não chega a lugar nenhum.
Nunca quer terminar nada.
Por isso falta a última nota
da partitura rabiscada sobre a mesa
do dueto que não existe mais...
(enquanto assim quiser)


publicado originalmente em: A Radionave

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Preservando Pessoas

Hoje surgiu um papo sobre consumo consciente e preservação do meio ambiente. Acho o máximo! 

Mas, lindo seria preservar as pessoas, as relações – e na hora que disse isso instalou-se um breve silêncio na sala. 

As coisas andam por esse caminho mesmo. As relações e as pessoas viraram itens descartáveis. 

É como se o grande prazer fosse conquistar, adquirir.
As amizades acabam porque as pessoas mudam de departamento, porque saem de férias, porque entram em um novo relacionamento... 


Simplesmente acabam. 

Na verdade, se apagam, como se nunca tivessem existido (na verdade, não existiram). 

Talvez ainda sobre a lembrança de uma conexão em qualquer uma das redes sociais.
E os relacionamentos relâmpago? 

É o consumismo da paixão. 

Sim, porque as pessoas se tornam objetos em vitrines que estão ali para serem compradas. 

Depois, perdem a graça. 

Tanta insistência, tanta paciência para depois...puff! 

Tudo sumir no ar (muitas vezes, o “comprador” também some).
Morro de vontade de ser mais engajada, mais “verde”. 

Queria gastar menos água, deixar o carro na garagem e plantar uma árvore por semana.
Mas não tenho vergonha de ainda preferir cultivar e preservar pessoas. 

Não sou especialista nisso – até porque se existe no mundo, esse alguém guardou a receita pra si. 

Mas ainda acho que a flor é mais bonita, se acompanhada de um sorriso, e que o pôr do sol é mais bonito se houver com quem possa ser dividido. 



originalmente publicado em: Deu Errado!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Vida é Feita de Ciclos

Tudo tem começo, meio e fim. 

Curtir o começo, construir durante o “meio” e ter sabedoria para enxergar o fim, quando ele chega, faz parte do processo de crescimento. 

Lutar pelo que queremos é muito diferente de insistir em algo que visivelmente não nos faz bem, e mais ainda, é diferente de insistir em algo do qual simplesmente não queremos abrir mão. 

Certas relações viram vícios em nossas vidas, como se os poucos segundos de carinho cedidos pelo outro se tornassem alimentos para nossa alma apagando todos as outras muitas horas de choro e tristeza. 

E, muitas vezes, nem há o pouco de carinho. 

Há apenas a necessidade de não estar sozinho ou as lembranças de um passado bom, mas que passou. 

E se passou para um dos dois, é fato que é passado – fim do ciclo. 

Comodismo, medo do novo, insegurança...seja lá qual for a razão, é preciso amor para enxergar que se sentir sozinho no meio de uma relação ou implorar mil vezes pela volta de alguém não é saudável de nenhuma forma. 

E esse amor tem nome: amor próprio. 

Brigar pelo que não existe é muito mais dolorido que deixar o tempo colocar as coisas no lugar, e com certeza, muito mais limitado do que se abrir para o novo e acreditar em nossa própria capacidade de recomeçar, de viver. 

E, quando temos a coragem de dar um passo a frente com esforço para construir a nossa própria felicidade, sem que ela dependa de nada ou ninguém, sobra tempo (e forças) para termos carinho pelo passado, sem mágoas, usando o que aprendemos com o fim do ciclo para nosso próprio crescimento. 


Lâmpadas queimadas não têm concerto. Gaste sua energia procurando sua própria luz!" 



originalmente publicado em: Deu Errado!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ninguém é Feliz Sozinho


Um relógio... isso me lembra que o dia tem 24 horas.

E a felicidade, quantas horas tem? Por quantas horas do seu dia você é feliz?

Às vezes a gente se envolve num relacionamento acreditando tanto nos bons momentos,  que esquece dessa quantidade de horas do dia. Ou seja, esquece que temos que ser felizes por todo o tempo.

Nada é cem por cento bom ou ruim, e anormal seria um relacionamento sem nenhum problema ou divergência. Mas, quando você tem alguns minutinhos de paz e felicidade e as demais horas do dia de sofrimento, é o momento de pensar... repensar.

O amor nos faz meio cegos, é fato. Mas daí a ser infeliz dentro de uma história pensando na compensação dos poucos bons momentos, aí já é outro problema.

Já disse o poeta que “é impossível ser feliz sozinho”. Eu concordo. Pior ainda é tentar ser feliz sozinho estando com alguém.

Idolatria, medo da solidão, comodismo. Essa mistura faz a gente esquecer que nascemos para ser felizes e que não merecemos nada menos do que isso. 

Que relacionamentos só são verdadeiros quando partem do companheirismo e da parceria e esses dois só existem a partir da compreensão – dos dois lados.

Há que se enxergar que as pessoas não são iguais, nem no jeito de ser, nem nas necessidades. E ambos têm que compreender isso... nós temos que compreender que não podemos deixar de ser nós mesmos para estar com alguém.

Que amigos, família e desejos são os nossos alicerces, são o que nos fizeram ser o que somos, e que não é justo passar por cima de tudo isso para estar com alguém.

Não é justo conosco. Não é verdadeiro. E se não houver verdade, quanto vale a pena?

Vale colocar na balança os minutos de alegria e os minutos de vazio lembrando que merecemos 24 horas de felicidade, e que se você deixar de ser o que é por alguém, morre a cada minutinho no qual está se enganando.

Vale tomar coragem para viver uma verdade, vale tomar coragem para ser feliz por completo!

originalmente publicado em: Deu Errado!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Caminho de Casa


A caminho de casa, vi um rapaz de uns 20 anos, cabelo cacheado e uma mochila nas costas em um ponto de ônibus. O farol fechou e parei bem perto dele. Vi que ele tinha nas mãos um buquê de flores coloridas, embrulhadas com um plástico transparente e um laço vermelho.

Consegui ver tudo isso enquanto o farol não abria porque a mochila colorida não parava de balançar assim como todo o seu corpo. Menos as mãos que seguravam as flores com carinho.

Parecia um balanço ansioso, como se esse movimento adiantasse o ônibus que não vinha.

E esses poucos minutos me fizeram concluir que essa ansiedade que o corpo não conseguia disfarçar estava ligada a essas flores. Quem as receberia e como reagiria?

Fiquei pensando no rosto, na reação, no por quê. E no restante do trajeto comecei a pensar em algumas pessoas próximas e em como elas reagiriam ao receber um buque hoje. Como eu reagiria?

É fato que as pessoas falam mais e mais a cada dia sobre a dificuldade em encontrar o amor e o quanto gostariam que isso acontecesse. Mas será que é assim mesmo? Será que quando um menino com flores bate à porta, o recebem com um sorriso no rosto e o mandam entrar?

Pois é! Vale a pena pensar no assunto. Mesmo!

Me peguei a pensar se eu gostaria daquelas flores, daquele laço vermelho, da ansiedade e no quanto eu estaria propensa a abrir a porta e dizer: “- Que bom que você veio. Entre. Estava te esperando.”

O menino com flores não precisa ser menino, nem ter cachinhos...na verdade, nem precisa ter flores. Ele só precisa estar disposto a entrar e nós, dispostos a abrir a porta.

Deixar que ele entre, se espalhe no sofá e entregue o que veio trazer: o amor.

Queremos sim ser amados, mas não deixamos isso acontecer inventando desculpas e limitações no outro e em nós mesmos: falta tempo, falta disposição, falta beleza no outro...nos falta coragem. Coragem de assumir que precisamos sim de outro, de carinho, de cuidado. Que é bom ser bobo (às vezes), que é bom sentir a falta ou ficar ansioso para saber a reação do outro ao receber flores.

Abra a porta para esse menino. Deixe- o entrar.

Se ele bagunçar a sua casa, tudo bem! Você vai conseguir pôr as coisas no lugar de novo, ainda que leve um tempo, ainda que dê trabalho. Talvez arrastar os móveis sirva para você descobrir coisinhas que havia varrido para debaixo do tapete há algum tempo.

E se ele chegar de ônibus, de mochila nas costas e isso não for exatamente o seu sonho de consumo, pelo menos deixe que ele lhe dê as flores. Depois, você saberá o que fazer.


originalmente publicado em: Deu Errado!

sábado, 17 de novembro de 2012

Perfumes e Janelas


As casas nesse bairro, são muito próximas umas das outras. Quase que grudadas. Então fica fácil sentir o cheiro da comida do vizinho, por exemplo.

Ontem à noite, andando pela rua, senti um cheiro de xampu (aliás, o mesmo que eu uso) e olhei em volta tentando entender de onde vinha o perfume. Prestando mais atenção, ouvi barulho de um chuveiro: alguém estava no banho. 

Olhei pra cima e vi a janela de uma das casas. 

Aberta.

Se a janela não estivesse aberta, não haveria cheiro nenhum. Eu passaria pela rua, chegaria ao meu carro e iria para casa, como sempre.

Mas não. Me lembrei que estive falando sobre portas abertas por aqui na ultima semana. Hoje, pensei em janelas.

Na verdade, sobre o que deixamos que saia de nossas casinhas, o que deixamos que os outros percebam de nós. Quanto do cheiro de xampu que deixamos que sintam?

Eu e minhas comparações! São portas abertas para que o novo entre, janelas abertas para que o “nosso” seja percebido lá fora... E é assim sim!

Não adianta o melhor xampu se não deixamos que o sintam, que o apreciem. De que adianta você ser o melhor dos seres se ninguém tem a mesma visão? 

Talvez, não estejam te vendo da maneira errada. 

Talvez você que não esteja permitindo que te enxerguem da maneira certa.

Aprendemos a nos proteger demais, nos esconder demais, a disfarçar o que sentimos e o que queremos desde cedo. E aí, quando a gente percebe, já não dá mais tempo de voltar atrás e dizer tudo o que sufocamos, o choro que engolimos e as vontades que seguramos.

E nesse jogo ganhamos o que? Somente a sensação de que as pessoas não nos conhecem de fato. 

E a culpa é nossa.

Se não abrirmos a janela, o perfume nunca vai tomar conta da rua.

Pode dar tudo errado sim. Pode ser que sua vizinha use o mesmo xampu, ou que alguém reclame do perfume... pode ser. Quem sabe? 

Pode ser um bocado de coisa... pode ser ótimo também. Já pensou nisso?

Não tenha medo de usar de honestidade, principalmente com você mesmo. Não tenha medo de dizer o que sente... não tenha medo de sentir. 

Use o melhor xampu, capriche. 

Mas permita que sintam esse perfume.

Permita que apreciem, permita o elogio (receber elogios pode ser tão complicado!).

Sair da casinha não é simples, mas pode ser revelador até para você!

Tente abrir a janela e permita que mais pessoas sintam o perfume.

Não se esqueça que é assim que as flores atraem as abelhas.


originalmente publicado em: Deu Errado!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Quero ir para Terra do Nunca


Eu queria o endereço da Terra do Nunca. Você não?

Ah não! Não que eu não queira crescer ou que esteja precisando de uma dose extra do pó da Sininho não. 

É que tem tanta gente que eu conheço que não sei de lá, da Terra do Nunca, que é inevitável a curiosidade em conhecer.

É sério! Sou meio Wendy nessa história, sabe? Entre lá e cá eu ainda prefiro o curso natural do rio. 

Mas olha! Tenho visto tanto Peter Pan perdido no meio da história que se soubesse o caminho eu mesma fazia umas viagens levando esse povo de volta pra lá.

Crescer não é fácil, de verdade. 

Há que se abrir mão de muita coisa, fazer muitas escolhas e com elas muitas vezes assumimos grandes pesos. 

Mas, faz parte do processo (inclusive a parte de errar nas escolhas e ter sobre os ombros pesos maiores do que podemos carregar porque é assim que se aprende).
Mas mesmo assim, tem gente que insiste em ficar preso pra sempre na roupinha verde e com sapato engraçado: o eterno Peter. 

Sem fazer escolhas, sem abrir mão do fácil, sem ter que decidir nada. 

E ai daquele (normalmente é aquela) que achar que pode segurar o voo desses aí. Coitada!

Fico da janela (confesso que nesses casos, a janela é o lugar mais confortável) vendo a história se repetir: a Wendy volta pro mundo real porque sabe que tem que crescer e o Peter, ah! O Peter! 

Insiste em ficar na Terra do Nunca com os “meninos perdidos”.

Só vale lembrar que em alguns momentos (vários) da história, o tal do mocinho que não cresce, se pega pensando em sua Wendy e na falta que ela faz, de seu cuidado com ele...de como se divertiam juntos...

É. Pensando bem, não preciso do endereço da Terra do Nunca. 

É só eu perguntar prazamigas que voltaram da lá e cresceram deixando os “meninos perdidos” para trás.



publicado originalmente em: Deu Errado!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Flor de Maio


Tenho em casa um vaso com “flor de maio”. É linda essa flor e é uma graça quando ela fica cheinha. Só tem um problema: minha flor de maio só floresce em setembro.

Pois é. 

Enquanto os vasos da vizinhança estão cheios de flores das cores mais variadas, o meu está lá, vazio. 

Sem nenhum sinal de cor.

Passam os meses e, quando já me esqueci das “flores de maio” meu vaso se enche de brotos ficando colorido e enfeitado. E aí, minha flor de maio reina absoluta no mês de setembro.

E quem disse que ela está errada, hein? Pode ser diferente, pode ser contraditório, mas é assim que ela é.

O tempo certo dela não é igual ao das outras, mas quando ela floresce é, simplesmente, perfeita.

Já parou pra pensar que em nossas vidas há muitas “ flores de maio” como essa?

Sim. 


Temos diversas flores que aparecem em épocas totalmente impensadas de nossas vidas e que, muitas vezes, vão na contramão daquilo que considerávamos o ideal.

Mas e se o maio correto dessas flores  for como o da minha: em setembro? Qual o problema? É o vaso da vizinha que floresceu antes? É o medo das flores não serem iguais às outras?

Não. Seu vaso floresce na hora certa. E se florescer duas vezes, saiba apreciar as cores que ele lhe propicia.

Não existem pessoas erradas no momento certo ou vice e versa. As pessoas certas, aparecem no momento certo, no “maio” certo, mesmo que esse seja em setembro depois de indas, vindas, desencontros ou surpresas.

O que é verdadeiro, o que dura, está acontecendo na hora certa. Simples assim. Sem desculpas ou justificativas.

Dê uma chance para sua flor de maio.


Afinal, por experiência, posso dizer que as flores de setembro, são incríveis!

originalmente publicado em: Deu Errado!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Dramas de Aquário


Não aguento tanto drama, amor e safadeza... agora, trabalhado nas canções.

- E você, tá bem com isso?

- Sinto como se alguém abrisse uma gaveta minha e bagunçasse ela inteira.

- Normal. Bem vinda ao mundo dos que se apaixonam.

- Próximos episódios de As Brasileiras: “A Apaixonada do Aquário” e “A Cruel da Praça Panamericana”.

- Eu tinha 3 aquários. Quero informa-la que não tenho mais nenhum.

- Peixe dos infernos!!! Mora até em gaveta agora! Mas ó, agora tenho um foco: me desintoxicar... de sms.

- Não. Espera. Melhor se preocupar com o remanejamento do mapa.

- Não consigo. A posição da Lua eu ainda não consigo controlar, esqueceu? Você tá apaixonada?

- Não, eu sou a que matou os peixes e vale lembrar que “quem dera ser um peixe” não é a melhor trilha sonora para o momento. Melhor desligar isso. Pega o tarô. 

- Peguei água sanitária. Para acabar logo com isso. Jogo no aquário. Tive um peixe uma vez, o Hugo. Morreu. Mais um... tanto faz. Ele era de escorpião.

- O Hugo?

- Não, o peixe. Sim...o Hugo.

- (cara de tanto faz) Arruma a gaveta. Tem peça aí que não combina mais com a cor do seu cabelo.

- Não faz o menor sentido. Tá errado.

- O que? Nossa conversa? Ou esse peixe que você não consegue afogar?

- Uma gaveta bagunçada. Quer mais? Eu nunca fui em cuidar de bichinhos de estimação mesmo...

- Qual o pânico? Nenhuma gaveta fica assim pra sempre. Nem que seja com uma nova faxineira, ou na próxima estação, quando esvaziar o armário para roupas novas.

- Eu não sei conviver com isso. Pra mim não dá. 

- Começa fazendo doações, então. Aquele amigo não disse que o importante é repartir? Faz isso, oras. Uma peça pra um, outra pra outro. Uma hora não sobra nada pra ficar bagunçado.

- Mas e o peixe? 

- Joga num ninho de escorpião que eu não aguento mais. Você vai sobreviver. Ele, não.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Janelas e Gavetas

Tenho uma gaveta para cada coisa: uma para pijamas, outra de camisetas. Mas tem uma gaveta que tem de tudo.

Cartões de visita, recados antigos, rabiscos e rascunhos. De tudo um pouco. Um pouco de tudo.

Um apanhado do que é meu num espacinho de madeira que vive bagunçado.


Minha gaveta.


E eu gosto de janelas. São uma espécie de portal para o mundo lá fora. Já reparou?

No tédio sempre procuro uma janela.

É isso. 

As bagunças da minha gaveta e as imagens das janelas por onde eu passar. 

Pra quem quiser ler...