sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Santa Baladeira Amém!


A cena: uma de minissaia, a curvinha do bumbum aparecendo (sim, quem frequenta balada sabe que isso é muito normal – estranho é mulher de calça), trançando as pernas de porre e dançando até o chão. A outra, de saia longa, rodeada de um monte de iguais, rezando – por vezes em silêncio, outras aos tambores) e em uma espécie de transe dançando também.

Normal uma garota usar o seu melhor vestido e perfume, tomar todas e mais algumas na  noite e acordar no outro dia contando de algum vexame que deu. Normal.

Agora, porque é tão bizarro imaginar uma garota, na mesma idade, de saia longa, reunida com os amigos numa igreja ou um terreiro, por exemplo?

Tá aí. Valores que pra mim são impossíveis de entender.

É bonito ser vagabunda e é ridículo ser religiosa. Oi?

Vamos do começo: eu sou dessas que (fora o redondinho aparecendo e o pileque) também dançam até o chão e viram a noite na balada. Normal né?

Aí, a fulana aqui, sem querer, comenta ter passado a madrugada em oração na praia (tava macumbando mesmo) e oh!!! Que menina estranha!

Gente!

Tô falando de mim que sou veinha (longe de ser religiosa, apesar de absurdamente crente) e muito bem encaminhada da vida, hein?! Imagina quando o assunto é sobre adolescentes que optam por uma vida menos “mundana”.

Se eu tivesse dito que peguei três na madrugada e dei vexame por causa da bebida, iriam rir. Mas não, eu tava rezando. E faço isso aos finais de semana. E não bebo, porque vou rezar ... e sou estranha!

O mesmo acontece com as amigas evangélicas que fazem vigílias, frequentam shows de música gospel ou as católicas que peregrinam a Aparecida do Norte. Mulheres estranhas....eu hein?!

Ah é! Tem as loucas também, coitadas! Magina? Deixar de ir à praia para cuidar de pobre? Que absurdo. Não curtem a vida, né?! Essas “minas” tão maluca mesmo.

Tudo bem que tem um monte de mulher doida de verdade: umas que esperam Gzuis pro café da tarde, outras que não fazem nada da vida porque o “santo” delas não quer, outra que acha que pode viver de luz e por aí vai.

Também sei (e tenho certeza) que nem toda baladeira é vagabunda, gente. Eu sei disso – e como disse adoro balada também.

Mas queria entender que mundo é esse em que ficar em casa é absurdo, não pegar ninguém na balada é impensável e não beber é quase um crime. 

Talvez seja por isso que a cada dia mais e mais pessoas se fanatizam em suas crenças, né? Porque pára pra pensar: se é nessa humanidade podre que eu tenho que acreditar, é de reza braba que eu preciso mesmo!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Centauro

Me pede constância e não entendo do que se trata. Eu volto. Sempre volto. Você insiste pra eu voltar e não consigo dizer não.
Teu abraço me isola do mundo e teu beijo é passaporte para uma viagem que adoro. 
Frequência é assunto. Mas passa. Acordo sem saber se sonhei ou foi o efeito da última caipirinha que não bebi e tento de novo, afinal, foi o que pediu, não foi?


Acho que fui eu que entendi errado essa sua cobrança por minha presença, pela frequência e a "saudade" que pronunciou no abraço porque o silêncio apaga tudo o que foi dito.
Dito e soletrado. Mas eu que errei. Entendi errado, não pode.Só pode.




quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Tambores


Dali, não tinha como resistir.
O som dos, a alegria das cores, os movimentos. Toda a atmosfera de festa me envolvia e fui até lá.
Contida, no começo, olhos para o chão. Há muito não passava por isso e tinha medo de não saber mais como agir.
Não precisava. Aos poucos, os movimentos tímidos e os passos controlados foram tomados por sorrisos e saltos. Leveza e alegria como nem lembrava sentir.
E a cada minuto ia sendo tomada pelas sensações e envolvida pelo momento, me entreguei... incômodos e dores apareceram. Mas a magia me pôs em transe e não percebi o quanto me fiz mal.
Eu me machuquei. Sozinha.
A música acabou – sempre acaba. E me sobrou a sensação boa do que vivi acompanhada de pés esfolados, doloridos a ponto de não poder tocarem o chão. A ponto de ter medo de ouvir qualquer outra música e apavorada em pensar nessa entrega doída outra vez.
E sempre dói. As vezes sangra e traumatiza.
Em uma próxima, me talvez eu vá mas com sapatos. Calçada pra me proteger da envolvente ilusão.
Culpa?
Minha. Deveria desconfiar.
Quem sou eu pra me entregar assim?
Logo cicatriza e talvez, antes disso, eu tente dançar com o amor outra vez.




domingo, 2 de dezembro de 2012

Bailarina


Mais uma vez surpreende.
Brilha como nunca.
Hoje como guerreira.
Armada
Mira na platéia...
Ele está lá...
Sente como se todos os refletores estivessem sobre ele
Mas era seu próprio olhar que o destacava.
Concentra-se
E dança.
Com sua alma...
Como uma arma.
As cortinas se abrem novamente.
O avista no grande teatro
E chora...
Ao som dos aplausos que estremecem o cenário
Foi brilhante!
Mas chora...
Por não conseguir ser mais que a bailarina.
Somente mais uma bailarina.
Errara o novamente tiro.


publicado originalmente em: A Radionave